SOLAR DOS PRAZERES - ALCARIA - PORTO DE MÓS

terça-feira, 12 de abril de 2011

UMA CERTA VELHICE


CHUCHA-MÉIS EM ALCARIA | SN

Creio que se pode traçar uma fronteira muito precisa entre a juventude e a velhice. A juventude acaba quando termina o egoísmo, a velhice começa com a vida para os outros. Ou seja: os jovens têm muito prazer e muita dor com as suas vidas, porque vivem só para eles. Por isso todos os desejos e angústias são importantes, todas as alegrias e dores são vividas plenamente e, alguns, quando não vêem os seus desejos cumpridos, desperdiçam toda uma vida a lutar contra isso. Isto é a juventude. Mas, para a maior parte das pessoas, chega o tempo em que tudo se modifica, em que começam a viver mais para os outros, não por virtude, mas porque é assim. A maior parte constitui família. Pensam menos neles próprios e nos próprios desejos e mais nos filhos. Outros perdem o egoísmo num escritório, na política, na arte ou na ciência. A juventude quer correr, os adultos gostar.
Mesmo que se não tivessem casado para ter filhos, acabam por se impor às suas vontades, e quase tudo acontece por eles. Da mesma forma, a juventude gosta de falar na morte, mas nunca pensa nela. Com os velhos acontece o contrário. Os jovens acreditam ser eternos e centram todos os desejos e pensamentos em si próprios. Os velhos já perceberam que o fim acabará por chegar e que, por isso, valerá mais tratar e apreciar quem os rodeia. Para isso necessitam de uma certa eternidade e de acreditar que não trabalharam, apenas, para o sucesso pessoal. Assim, estas pessoas, são mais felizes quando vivem para mais alguém e não apenas para si próprios. Mas os velhos não devem fazer disto um heroísmo, porque o não é. Do mais irrequieto jovem resulta o melhor dos velhos, o que não é verdade para aqueles que já na escola agiam como velhos.
SILVA NETO 2010

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